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A obesidade pode causar disfunção erétil?

A obesidade é um importante problema de saúde pública mundialmente, com a sua prevalência a atingir proporções epidémicas. Uma das consequências da obesidade menos frequentemente discutidas, mas com um impacto profundo, é a sua associação com a disfunção erétil.

Homem obeso faz exame de saúde sexual no hospital

Tanto a obesidade como a disfunção erétil são condições complexas com origens multifatoriais que partilham frequentemente um ambiente patológico comum. Este “terreno comum” inclui o stress oxidativo, a inflamação e a consequente resistência à insulina e à leptina. A interação entre estes fatores não só exacerba a obesidade, como também prejudica a função erétil, salientando a necessidade de uma compreensão abrangente da sua interrelação.

Obesidade e disfunção erétil

A obesidade atingiu proporções epidémicas em todo o mundo, com a Organização Mundial de Saúde (OMS) a estimar que, em 2022, 2,5 mil milhões de adultos (com 18 anos ou mais) tinham excesso de peso. Este aumento alarmante da prevalência da obesidade é paralelo a um aumento da disfunção erétil, uma condição que afeta cerca de 250 milhões de homens em todo o mundo e que se prevê que ultrapasse os 322 milhões em 2025.[2] A coexistência destas duas condições sugere uma ligação intrínseca que vai para além da coincidência.

O pénis tem sido chamado “o barómetro da saúde de um homem”, e com razão, uma vez que qualquer anomalia na sua anatomia, fisiologia ou função pode refletir uma doença, ou perturbação subjacente. Uma das condições mais comuns, especialmente entre os homens com excesso de peso, é a disfunção erétil. Esta condição é caracterizada por uma incapacidade persistente de atingir ou manter uma ereção suficiente para um desempenho sexual satisfatório. A obesidade, por outro lado, é caracterizada pela acumulação excessiva de gordura, que apresenta riscos significativos para a saúde. Perturba os processos metabólicos, conduzindo a doenças cardiovasculares, diabete de tipo 2 e outras condições, incluindo a disfunção erétil. A relação entre a obesidade e os problemas de ereção pode ser atribuída a vários fatores fisiológicos, psicológicos e de estilo de vida que, em conjunto, prejudicam a saúde sexual.

A relação entre a obesidade e a disfunção erétil

Fatores fisiológicos

A obesidade tem um impacto significativo na saúde cardiovascular, fundamental para a manutenção da função erétil. As ereções dependem de um fluxo sanguíneo adequado para os tecidos do pénis, um processo facilitado por vasos sanguíneos saudáveis e por um sistema vascular reativo. O excesso de gordura corporal, especialmente a gordura visceral, contribui para a aterosclerose — a acumulação de depósitos de gordura nas artérias. Esta condição estreita e endurece as artérias, restringindo o fluxo sanguíneo, aumentando o risco de eventos cardiovasculares, como ataques cardíacos, e causando também distúrbios de ereção. Como resultado, a redução do fluxo sanguíneo para o pénis leva à dificuldade em obter e manter uma ereção.

Além disso, a obesidade está associada a desequilíbrios hormonais que complicam ainda mais a função erétil. O tecido adiposo, ou gordura corporal, não é apenas um reservatório passivo de energia, mas um órgão endócrino ativo que segrega várias hormonas e citocinas. Nos homens obesos, observa-se frequentemente um aumento dos níveis de leptina, uma hormona produzida pelas células adiposas. Embora a leptina desempenhe um papel na regulação do apetite e do equilíbrio energético, a resistência à leptina, comum na obesidade, pode perturbar estes processos. Além disso, o excesso de tecido adiposo leva a um aumento da conversão da testosterona em estrogénio, resultando em níveis circulantes mais baixos de testosterona, essencial para o desejo sexual e a função erétil.

A inflamação e o stress oxidativo, caraterísticas da obesidade, são também fatores importantes que contribuem para a disfunção erétil. A inflamação crónica, impulsionada pela libertação de citocinas pró-inflamatórias do tecido adiposo, danifica as células endoteliais que revestem os vasos sanguíneos. Esta disfunção endotelial prejudica a produção de óxido nítrico, uma molécula essencial para a vasodilatação e o fluxo sanguíneo durante a ereção. Ao mesmo tempo, o stress oxidativo, caracterizado por um desequilíbrio entre radicais livres e antioxidantes, danifica ainda mais a vasculatura, exacerbando a disfunção erétil.

Fatores psicológicos

O peso psicológico da obesidade não pode ser ignorado na sua contribuição para a disfunção erétil. A obesidade conduz frequentemente a problemas de imagem corporal e a uma baixa autoestima, que têm um impacto negativo na confiança e no desempenho sexual. Além disso, a obesidade está fortemente associada a problemas de saúde mental, como a depressão e a ansiedade. Sabe-se que a depressão e a ansiedade afetam a função sexual, reduzindo a libido e causando dificuldades em conseguir ou manter uma ereção. A presença de disfunção erétil pode exacerbar a depressão, criando um ciclo vicioso que complica o tratamento e a recuperação.

Fatores do estilo de vida

As escolhas de estilo de vida desempenham um papel fundamental no desenvolvimento e gestão da obesidade e da disfunção erétil. Um estilo de vida sedentário, caracterizado por períodos prolongados de inatividade, contribui para o aumento de peso e para o decondizionamento cardiovascular. A atividade física é essencial para a manutenção de um peso saudável e para a promoção da saúde cardiovascular, sendo ambas fundamentais para a função erétil. A falta de exercício reduz a eficiência do fluxo sanguíneo e aumenta o risco de doença vascular, o que afeta diretamente a capacidade de conseguir uma ereção.

Os hábitos alimentares também têm um impacto significativo na saúde vascular. As dietas ricas em gorduras saturadas, açúcar e alimentos processados contribuem para a obesidade e prejudicam a função endotelial. Uma dieta pobre leva à acumulação de colesterol e depósitos de gordura nas artérias, restringindo ainda mais o fluxo sanguíneo.

Prevenção e gestão da obesidade e da disfunção erétil

Para enfrentar os desafios duplos da obesidade e da disfunção erétil, é necessária uma abordagem multifacetada que dê ênfase à gestão do peso e a escolhas de estilos de vida saudáveis. A gestão do peso é de extrema importância para reduzir o risco de disfunção erétil. Estudos demonstraram que mesmo uma perda de peso modesta pode melhorar significativamente a função erétil.

As intervenções médicas e terapêuticas são também fundamentais na gestão da obesidade e da disfunção erétil. Os inibidores da fosfodiesterase-5 são o tratamento de primeira linha para a disfunção erétil e atuam aumentando os efeitos do óxido nítrico e promovendo o fluxo sanguíneo para o pénis. Os comprimidos para a ereção funcionam aumentando os efeitos do óxido nítrico, um químico natural produzido pelo corpo para relaxar os músculos do pénis, aumentar o fluxo sanguíneo e permitir uma ereção em resposta à estimulação sexual. Inibidores mais eficazes da PDE-5 incluem o sildenafil (Kamagra, Cenforce), o tadalafil (Tadalis, Vidalista) e o vardenafil (Valif).

Na prática clínica, a escolha de um inibidor específico da PDE-5 depende de vários fatores, incluindo o estilo de vida do doente, a frequência da atividade sexual e quaisquer problemas de saúde subjacentes. Por exemplo, os doentes que preferem não programar a atividade sexual em função da ingestão de medicamentos podem beneficiar da duração de ação mais longa do tadalafil, enquanto os que necessitam de uma opção mais rápida e de ação mais curta podem escolher o sildenafil ou o vardenafil. No entanto, a sua eficácia pode ser comprometida em indivíduos obesos com resistência à insulina e inflamação subjacentes. A utilização adjuvante de metformina pode melhorar a resposta aos inibidores da PDE-5, proporcionando uma estratégia de tratamento mais eficaz para os doentes obesos com disfunção erétil.

A metformina, um fármaco originalmente desenvolvido como sensibilizador da insulina, tem-se mostrado promissor na abordagem de alguns dos mecanismos subjacentes que ligam a obesidade à disfunção erétil. Metformina melhora a resistência à leptina, reduz o stress oxidativo e diminui as respostas inflamatórias, o que é benéfico para o tratamento de ambas as doenças. Além disso, o estudo Obesity and Erectile Dysfunction[3] demonstrou que a combinação de metformina e inibidores da fosfodiesterase 5 (PDE-5), como o sildenafil, melhora a função erétil em doentes resistentes à insulina e com uma resposta fraca ao sildenafil isolado.

As terapias comportamentais e psicológicas também servem para gerir os aspetos psicológicos da obesidade e da disfunção erétil. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ajudar os indivíduos a lidar com questões relacionadas com a imagem corporal, a melhorar a autoestima e a desenvolver mecanismos mais saudáveis para lidar com o stress, a ansiedade e a depressão. O aconselhamento e os grupos de apoio podem proporcionar um ambiente de apoio para os indivíduos partilharem as suas experiências e receberem orientação sobre mudanças no estilo de vida.

A relação complexa entre a obesidade e a disfunção erétil sublinha a importância de uma abordagem abrangente à prevenção e ao tratamento. Ambas as doenças partilham processos fisiopatológicos comuns, incluindo stress oxidativo, inflamação e desequilíbrios hormonais, que coletivamente prejudicam a função sexual. O tratamento da obesidade através da gestão do peso, de uma dieta saudável e da prática regular de atividade física pode melhorar significativamente a função erétil. As intervenções médicas, como a utilização de metformina e de inibidores da PDE-5, oferecem opções terapêuticas muito promissoras para os doentes com disfunção erétil relacionada com a obesidade.

Referências

  1. World Health Organization (March 2024), "Obesity and overweight", www.who.int
  2. I A Ayta, J B McKinlay, R J Krane (Jul 1999), "The likely worldwide increase in erectile dysfunction between 1995 and 2025 and some possible policy consequences"pubmed.ncbi.nlm.nih.gov
  3. Ki Hak Moon, So Young Park, Yong Woon Kim (Jul 2018), "Obesity and Erectile Dysfunction: From Bench to Clinical Implication" ncbi.nlm.nih.gov